segunda-feira, 19 de março de 2012

O poder mobilizador e de transformação da comunicação

No início de novembro de 2011, estive em Camamu, cidade localizada no Baixo Sul da Bahia, para passar a adolescentes e jovens rurais noções de comunicação, com foco na produção de jornal. A proposta era simples, porém desafiadora: fazer com que aqueles meninos e meninas aprendessem o ofício e, o mais importante, fossem motivados a continuar o trabalho nas comunidades onde moravam.

Para muitos deles, era o primeiro contato com o computador. Então falar-lhes sobre gêneros jornalísticos, editorias, lide, linha editorial, elementos textuais e gráficos e pirâmide invertida constituía uma missão ousada. Além do jornal, eles tiveram contato com as linguagens de fotografia, rádio e internet. E saíram empolgados. A semente havia sido plantada.

Eles vinham de comunidades rurais, assentamentos e quilombos. Lugares longes e de difícil acesso, prato cheio para desistirem e continuar onde estavam. A desculpa, afinal, estava armada! Durante a oficina, o desafio de parar, pensar e listar sobre o que eles queriam falar sobre cada comunidades, numa verdadeira reunião de pauta, foi enriquecedor. Isso porque, depois de escrever sobre os pontos fracos e fortes de cada localidade, muitos deles acabaram por descobrir as belezas que os cercam ou as mazelas que precisam ser superadas. A valorização e o compromisso com a herança cultural e a natureza da região foi, talvez, o legado mais importante, e por que não dizer, mais emocionante do aprendizado.

Em fevereiro desse ano, uma mensagem de celular foi o bastante para provar o poder mobilizador e transformador da comunicação. Em uma das comunidades participantes, uma semente havia brotado. Nascia “A Voz da Juventude”, um jornalzinho experimental criado pelos novos comunicadores, e que vinha com o verdadeiro espírito da comunicação social: levar informação, divulgar, valorizar e respeitar as diversidades.

Para se chegar até a comunidade do Barroso não é fácil. A estrada é irregular e, se chover, fica praticamente inviável. Mas a paisagem exuberante e a vontade de reencontrá-los foram vencendo as dificuldades. Durante dois dias, levamos mais informações sobre foto e jornal, e eles, em troca, nos deram a grande oportunidade e experiência de viver a comunidade e de conhecer as belezas naturais, além de relembrar um sentimento quase extinto nos grandes centros: a gentileza.

A chegada da chuva anunciava, tristemente, o fim das atividades e que era hora de ir embora. Do contrário, poderíamos ficar por ali mais alguns dias, o que, evidentemente, não seria nenhuma má ideia da sagrada natureza. Somente quem esteve por lá sabe o que significa ver a simplicidade de seu Elinaldo, pequeno produtor de cacau e guaraná; a sabedoria incondicional de Ana Célia, a Dra das ervas medicinais; as delícias da culinária e o sorriso tímido, porém verdadeiro e cativante de dona Delza. A garra de dona Maria que, aos 63 anos, ainda trabalha na roça e sobra tempo e simpatia para receber a todos com tanto amor e dedicação.

Mas o melhor de tudo é que estas histórias poderão ser vividas por muito mais pessoas, porque estão contadas, pelos meninos e meninas, no Fala Comunidade, o jornal que eles deram vida, vez e voz, e que agora vai girar, através de uma comunicação democrática e social, marcando um novo capítulo nessa história.

Texto e foto: Josevaldo Campos