segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Quarta edição do Sarau na Rua fará referência ao mês da Consciência Negra



A quarta edição do Sarau na Rua já tem data marcada, 28 de novembro (sábado) e fará referência à luta do Movimento Negro, em alusão ao mês da Consciência Negra – Novembro Negro.

Pensado para resgatar, promover e divulgar a cultura local, sob diversas tonalidades artísticas, o Sarau na Rua volta seus olhos multicoloridos e multifacetados para provocar a luta dos afrodescendentes, repudiando a segregação, a desigualdade, a discriminação e o preconceito nas suas diversas formas sorrateiras de se manifestar.

A iniciativa artística, como já é sabido, nasceu em Tucano, fruto da inquietação de alguns jovens do Coletivo Ação Juvenil de Tucano (Coaj), movimento organizado e parte integrante do Coletivo Regional Juventude e Participação Social (CRJPS). 

Não só a cidade de Tucano é majoritariamente branca, como também a cor da pele de quem organiza o Sarau. O diferencial que faz com que os jovens se voltem para a temática e enxerguem uma grande oportunidade de dar visibilidade à causa por meio da arte está nos olhos de quem tenta frear a máquina mortífera do preconceito e da discriminação racial.

Tucano também tem comunidades negras, quilombolas, dizem os mais estudados. Um povo negro que não se reconhece como tal e parte disso se deve à ausência de iniciativas que estimulem o autoconhecimento como negro e a valorização de uma tradição.

Há na internet uma frase atribuída a Paulo Autran que diz o seguinte: “Todo preconceito é fruto da burrice, da ignorância, e qualquer atividade cultural contra preconceitos é válida”. Referendar o Movimento Negro quando todo o estado da Bahia estará voltado para homenagear o Novembro Negro, a Consciência Negra, é oportuno. E deixa de ser clichê, banal, a partir do momento em que os organizadores decidiram abordar o tema por meio dos três eixos já trabalhados no Sarau: Desigualdade Social, Movimento LGBT e Feminismo. 

Outra novidade vai tornar este dia diferenciado, singular. O artista da terra, Mohzah Nascimento, que conquistou recentemente o primeiro lugar no Festival Metropolitano de Música Vozes da Terra 2015, em Feira de Santana, confirmou presença na noite. Será mais uma voz para ressoar, expandir os gritos de um povo que anseia por liberdade, pelo direito de livremente ser o que ele é.

No dia 28 de novembro, a quarta edição do Sarau na Rua não só vai reunir muita gente de Tucano e cidades vizinhas que já tornaram o evento agenda imperdível, mas também arrecadará alimentos não perecíveis, roupas, brinquedos e livros para doar em comunidades carentes da cidade. Se for de coração e achar justa a causa, doe.

O Sarau na Rua começa às 19h, o palco é livre e multicolorido. Como bem sugere a frase de Paulo Autran, se esta iniciativa contribuir para a diminuição da burrice, da ignorância, terá valido a pena e cumprido o seu papel. Porque o preconceito e a discriminação, sejam eles racial, social ou econômico, terão terminado no dia em que a consciência humana prevalecer sobre todas as outras cores.  

Josevaldo Campos

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Culturando na Praça. Iniciativa de três coletivos de jovens está versando ideias transformadoras para municípios

Sábado e domingo, dias 07 e 08 de novembro, jovens dos municípios de Tucano, Quijingue e Euclides da Cunha, semiárido baiano, abriram mão de estarem com as famílias, de viagens e até da habitual presença dos amigos para participarem daquilo que os desavisados classificariam como “trabalho de adulto”.

Tratava-se da primeira edição do Culturando na Praça – Versando Ideias, um projeto itinerante de intercâmbio, formação e promoção cultural desenvolvido pelos coletivos de jovens dos três municípios, todos integrantes do Coletivo Regional de Juventude e Participação Social (CRJPS).

A manhã do sábado começou com cada coletivo apresentando as principais ações que estão sendo desenvolvidas nos respectivos municípios e aquelas que estão previstas para serem executadas. Diferentemente do que geralmente acontece nos “trabalhos de adultos”, as apresentações tinham muito mais o formato de um bate-papo, não só pelo fato de serem jovens com o papel e a caneta nas mãos, mas, sobretudo, porque as ações desenvolvidas e apresentadas ali são conhecidas de todo o público e integram o rol de intervenções do CRJPS.

Nos intervalos das apresentações, cada coletivo trouxe para o palco uma mostra cultural. Aliás, para cada canto do espaço que se observava, via-se alguma manifestação artística se versando.

À tarde, reunidos em grupos, os jovens levantaram propostas de bandeiras de luta para debate e aprovação e posterior realização de ações individuais e coletivas, além de um bate-papo com um dos coordenadores do CRJPS, que falou sobre os novos desafios para a juventude. 

Dentre os principais temas a serem trabalhados no próximo ano está Feminismo, Preservação Ambiental, Não Redução da Maioridade Penal, Legalização da Maconha e Causa LGBT, temas da atualidade e que precisam ser discutidos e compartilhados com a sociedade, livres de preconceitos. A principal ação será promover nas escolas dos municípios formação e oficinas educativas com estudantes do ensino fundamental e médio.


Para fechar a tarde de atividades, cada coletivo promoveu uma formação sobre os seguintes temas e provocou nos participantes a criação de um produto, os quais foram apresentados em praça pública : genocídio da juventude (Coletivo de Jovens de Euclides da Cunha – Cojec), que culminou com um amplo debate e composição coletiva de uma canção intitulada “Qual a cara do ladrão?”. O Coletivo de Jovens de Tucano (Coaj) trouxe uma discussão sobre apropriação cultural, tendo como base o uso dos turbantes, abordando a história e uso consciente do objeto. Durante o evento noturno na Praça Maria Bonita (o nome não podia ser mais oportuno), os participantes fizeram turbantes na cabeça de diversos expectadores, deixando o ambiente ainda mais cult. Super bonito!

O Coletivo de Quijingue (CMJQ), por sua vez, botou o povo pra dançar, literalmente, com uma oficina de dança. E os jovens mostram, à noite, que têm muita ginga no pé. Os aplausos do público carimbaram a qualidade e beleza da apresentação final. E essa foi apenas uma das apresentações artísticas que animaram a noite da primeira edição do Culturando na Praça, onde toda forma de linguagem cultural pôde se manifestar.

Domingo, bem cedo, era hora de acordar e seguir, em caminhada, rumo a um açude da cidade, onde estava prevista uma ação socioambiental. Por lá, os jovens realizaram a limpeza de todo o entorno do local (muito bonito, por sinal, a água é uma delícia para o banho), plantaram mudas de árvores, instalaram lixeiras recicladas e ecológicas, produzidas pelos coletivos para este fim, e colocaram placas com mensagens educativas clamando aos visitantes para preservar o ambiente.

Embora a ação tenha sido um sucesso e muito lindo o engajamento de todos, a cena final era de lamentar. Vários sacos grandes de lixo, repletos de material descartável de todo tipo, foram recolhidos pelos jovens. Um retrato fiel – e triste – da forma como a comunidade local trata aquele oásis, popularmente chamado de açude. Todo o material reaproveitável vai virar arte nas mãos do artista plástico Adriano Motta, que, inclusive, abraçou a ideia do Culturando e estava por lá o tempo todo dando suas contribuições.

Com a intervenção, a vegetação que cerca o açude ganhou outra cara, sem o colorido agressivo do lixo. Ao retornar para o centro da cidade, as inúmeras reflexões entre os jovens foram inevitáveis e um sonho ficou plantado lá naquele espaço: que as árvores cresçam, produzam, e que brotem novas ideias na cabeça de todos que frequentem o local.

Josevaldo Campos, jornalista