quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

À procura da honestidade

Quem nunca sonhou com uma casa linda, com jardins impecáveis e uma piscininha para o fim de semana com os amigos? Quem nunca desejou experimentar o conforto de passear pelas ruas da cidade em um carro de luxo? E aquele aviãozinho particular no quintal de casa? E o privilégio de viajar mar adentro numa lancha particular? Na opinião dos meus e dos seus pais, tudo sonho realizável, desde que você trabalhe muito e de forma honesta!

Empenhamos anos de nossas vidas com estudos, trabalho, estudos... Tudo em prol das realizações pessoais e profissionais, e na busca incessante por essa tal felicidade, e vamos renovando nossas energias, alimentando nossas expectativas e aumentando nossas aspirações sempre com as palavras mágicas dos nossos amigos e pais, que nos fazem sempre acreditar que conquistaremos o sucesso, e que todo o esforço e trabalho honesto serão recompensados. Vamos para a escola, para a universidade de transporte público sem qualidade, e voltamos do trabalho para nossa casa modesta, depois de enfrentar horas de congestionamentos. Problemas banais e que serão logo superados, com o resultado dos nossos esforços diários, da nossa luta infinita. E honesta.

Temos o dom natural de perseguir aquilo que é bom e que nos fará feliz. Com exceções, obviamente. Vem-me na memória cenas do filme Em Busca da Felicidade (The Pursuit of Happyness, título original), protagonizado por Will Smith, na pele do persistente (e honesto) Chris Gardner. Ele, pai de família com sérios problemas financeiros, tenta ganhar alguns tostões vendendo aparelhos de raios X que são caros e ultrapassados. E para completar sua sina de homem honesto e trabalhador, sua mulher o abandona, obrigando-o a criar, sozinho, o filho de apenas cinco anos. Mesmo assim, ainda acredita que dias melhores virão. Mas não chegam. Pelo menos no filme!

Volta e meia vemos nos jornais, revistas e TVs homens e mulheres de sucesso, que enriqueceram por mérito próprio, através de muita dedicação e trabalho (honesto?). A lista é grande: empresários, banqueiros, artistas, jogadores, políticos...  Proprietários de mansões, super carros e contas bancárias recheadíssimas em ilhas fiscais paradisíacas, difíceis para qualquer trabalhador honesto e assalariado pronunciar o nome. Então ficamos imaginando quantos anos de estudo e trabalho mais serão necessários para que nós, honestos, conquistamos, se não um pedaço de ilha particular ou um carro de um milhão e meio de dólares, um casa simples e aconchegante e um carro que proporcione mais conforto em viagem. Nos congestionamentos.

Mas, contraditoriamente ao sucesso resultado do trabalho honesto, aquele que nossos amigos e pais sempre nos incentiva a alcançar, a gente vê, nesses mesmos jornais, revistas e TVs, uma fortuna de casos de enriquecimento ilícito, de lavagem de dinheiro (público) e falcatruas das mais inacreditáveis. Assim, nossos “heróis”, donos de fábricas de sonhos para trabalhadores assalariados, mostram, a cada dia, que o caminho do trabalho honesto até a riqueza é coisa totalmente antagônica.

Esses casos corriqueiros e cada vez mais banais de riquezas fraudulentas criam naqueles que sonham em construir um patrimônio pelas vias legais o sentimento de “idiotismo”, porque, um a um, empresários, banqueiros, artistas, jogadores, políticos, eles vão sendo descobertos, deixando a impressão de que todos os bem sucedidos são corruptos, e que, mais cedo ou mais tarde, serão desmascarados.

E o pior é que, no país em que tudo se dá um jeitinho, os atos de corrupção podem passar de exceção para regra. Isso significa que os conselhos dos meus e dos seus pais e amigos podem não só perder totalmente a valia e sentido, mas terem que ser remodelados, atualizados segundo as normas “legais” do enriquecimento ilícito. E o resultado disso será, inevitavelmente, a constituição de uma sociedade totalmente pobre de valores.

Josevaldo Campos