sábado, 22 de janeiro de 2011

Peculiaridades

Essa semana viajei da Bahia para o Rio de Janeiro de ônibus, pela primeira vez. Estava ansioso para desfrutar as variações nas paisagens e outras mudanças naturais quando se vai avançando para outras regiões. Ainda no extremo Sul da Bahia, quase no Espírito Santo, paramos para lanchar numa cidade chamada Itamarajú. Local da parada: Posto-hotel Flecha, uma rede presente em muitos quilômetros da BR 101.

Desci do ônibus e, antes de me dirigir à lanchonete, resolvi ir ao toalete. Na entrada do estabelecimento, um homem, de prontidão, oferecia uma comanda para todos do nosso grupo que se aproximava. Dirigi-me ao meu destino inicial e me surpreendi com a qualidade que se encontrava o ambiente. Deu para ver, através dos muitos espelhos que se encontravam no local, minha fisionomia de surpresa. Tudo estava muito limpo e novo, simplesmente impecável e totalmente anormal para o que se costuma presenciar nos postos de parada de “beira de estrada”, como se costuma nomear. Melhor, inclusive, do que o de muitos shoppings de cidades grandes.

Voltei ao ônibus, peguei minha câmera fotográfica e registrei, timidamente, duas fotos. Não ficaram tão legais. Na emoção, acabei não percebendo que a regulagem da máquina não estava apropriada para o ambiente. Sai e me dirigi, com a comanda na mão, até o balcão de atendimento. Era a hora do lanche! Empolgado para um café quente, aproximei da atendente e pedi também um pão de queijo que estava na vitrine. Logo em seguida, um colega do meu grupo se dirige à balconista e pergunta:
 - Quanto é o pão de queijo? – Ela, sem pensar, repete:
 - Pão de queijo – E inicia o procedimento para atendê-lo.
 - Eu perguntei quanto era e ela já foi pegar – Disse ele para mim.
 - Três reais qualquer peça, olha lá – Disse-nos uma terceira pessoa ao nosso lado.
 - Então eu vou querer esse maior aqui, o pastel – Disse ele, apontando fixamente para o alimento, totalmente desproporcional com o meu singelo pão de queijo. “Deve ser de Minas”, pensei, tentando me confortar. Não adiantou. Senti-me lesado e pedi que substituísse meu pequeno mineirinho por um outro salgado. Um fato curioso é que eles (atendentes) não perdem a comanda de vista. Antes mesmo de você decidir o que comer e fazer o pedido eles já estão anotando. E a impressão que se tem o tempo todo é a de que nenhum cliente tem o direito de desistir ou mudar um pedido. Perguntar o preço de alguma coisa, então... Se responderem, a fórmula é certa: valor lá encima e simpatia zero.

Fomos para uma mesa e ficamos a discutir o quanto os preços iam aumentando e o atendimento mudando à medida que seguíamos na direção Sudeste e Sul.
 - Olha ali o que é que está em promoção! – Apontou meu colega.
Olhei para o local indicado e vi sobre a mesa um amontoado de bolachas recheadas. A placa indicava, em destaque: “Promoção! R$2,50”. E o preço nem tava essa Coca-Cola toda!
 - Devem estar vencidas ou perto de vencer. – Arrisquei.
Fui até lá, com uma disposição irreconhecível às 2 horas da manhã, e constatei. Algumas marcavam 01/02 e outras 11/02. Saímos para pagar a conta, mas não sem antes fazermos nossa última observação: preço e limpeza eles têm, agora simpatia, nenhuma.

Josevaldo Campos

Enquanto o trem seguia superlotado...

Na última quarta (19), no Rio de Janeiro, eu e mais três amigos resolvemos ir até a quadra da Portela, a escola de samba. Saímos de metrô do bairro da Tijuca, onde estávamos, e seguimos até a famosa e histórica estação Central. Lá, pegamos um trem com destino à Madureira, bairro do subúrbio do Rio. Era por volta das 18h30, horário de grande fluxo. Sabíamos, pelo número de pessoas que circulava pela estação, que o trem estaria bem cheio, mas jamais poderíamos imaginar que nossa paciência, força e resistência fossem ser testadas ao extremo naquele dia. Quando conseguimos nos aproximar de uma das entradas dos vagões, conseguimos entrar com muita dificuldade.

Depois de muito empurra-empurra, o trem partiu. Enquanto cada um tentava sobreviver e encontrar um espaço para respirar (mexer-se era impossível), um grupo de quatro homens jogavam cartas despreocupadamente, indiferentes às adversidades pelas quais todos estavam submetidos. Quando o trem passava por uma curva, o único suporte que tínhamos para não cair era o corpo das próprias pessoas que desafiavam as leis da física e ocupavam um mesmo espaço.
 - Cuidado com a mesa, cuidado com a mesa – Gritava um dos jogadores ao meu lado, um jovem, trajando um social esporte e munido de todo o seu sotaque carioca.
 - Deixa cair um, deixa cair um que fica vazio – Sugeria ele, sem desviar a atenção do jogo, enquanto o trem ia abandonando uma estação qualquer no percurso.

Conseguimos descer na nossa estação através de muita força e malabarismo. Estávamos todos molhados de suor. Minhas pernas pareciam ter um dos ossos fraturado. O corpo doía. Ainda lembrei de olhar para o trem partindo e ver a calma corriqueira nos olhos dos passageiros, agora mais felizes pelos centímetros conquistados com a nossa saída.

O passeio pela Madureira e a visita à quadra da Portela valeram o sacrifício. Saímos todos de lá vislumbrados com a comunidade e com o coração azul e branco. O trem de volta estava vazio e totalmente sem graça.

Josevaldo Campos