segunda-feira, 18 de abril de 2016

“Alguns de nós chegaram a receber milhões pra votar a favor do impeachment”, revelam deputados

A manchete desse texto, por enquanto, é fictícia, e qualquer semelhança com a realidade ainda é mera coincidência. Contudo, devemos lembrar: a história se repete.

É comum no mundo todo as pessoas cometerem erros conscientemente e depois, hipocritamente, pedir desculpas e fazer de conta que nada grave aconteceu antes. Lembro-me do caso dos veteranos da Segunda Guerra Mundial, que apoiaram o nazismo com veemência e recentemente decidiram, em público, reconhecer o erro cometido e pedir perdão.

Tudo seria perfeitamente compreensível e aceitável, afinal todos têm o direito de se redimir e ao perdão, a uma segunda chance, não fosse um detalhe importante e que não se deve esquecer: as inúmeras pessoas que foram assassinadas injustamente em decorrência do apoio inconsequente destas pessoas.

Ontem, com a votação e aprovação na Câmara dos Deputados pela continuidade do processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff, e os argumentos nada convencionais tampouco convincentes dos parlamentares pró-afastamento, criou-se uma possibilidade para a repetição da história.  É previsível, em curto ou longo tempo, que deputados, vendo a decisão desatinada que tomaram e as consequências (espero que nada além do que ocorreu ontem) venham a assumir e revelar a verdadeira razão que os motivou a votarem “sim” e, dissimuladamente, pedir desculpas, perdão ao povo brasileiro. E não duvidem: tudo isso em nome de Deus, da família, dos filhos, do país...

O Brasil deve ser o único país com resquícios de colônia no mundo onde investigados por crimes julgam e condenam inocentes, uma contradição sem precedentes. Talvez isso explique por que o princípio jurídico de presunção de inocência esteja cada vez menos sendo considerado pela Justiça e ameaça cair em desuso. Lamentável. 

Assim como os compositores Cazuza e Arnaldo previram 28 anos atrás, não é difícil para ninguém, hoje, com o mínimo de esforço, perceber que o futuro, mais uma vez, poderá repetir o passado, afinal, muitos argumentos e ideias que estão sendo declamadas com tanto clamor podem, certamente, não corresponder aos fatos. Vamos pra frente, porque o tempo não para.

Josevaldo Campos - Jornalista

quinta-feira, 7 de abril de 2016

Então não sirvo para ser político?

Mais do que nunca as pessoas estão se tornando desesperançosas da política como instrumento e ciência de governança, diante da postura incorreta dos representantes políticos para lidar com as verdadeiras necessidades do povo, tarefa para a qual foram eleitos através do voto.

Toda essa movimentação que acontece atualmente na política do país (e se estende para as ruas) criou também, contudo, a meu ver, um momento oportuno para que os políticos repensem suas posturas. Não é de hoje, evidentemente, mas o Brasil urge, clama por uma conduta decente, por um modus operandi comprometido com o desenvolvimento da nação por parte do homem público e político.


Fico a observar o comportamento antagônico dos chamados políticos de Oposição e de Situação. Consta na história que essa dicotomia de posicionamento político-ideológico existe desde sempre, e que já em meados do século XIX, quando ainda nem era possível denominar agrupamentos como partidos políticos, essa rivalidade já existia, o que, para mim, não justifica sua existência, pelo contrário, prova o quanto essa postura é ultrapassada e quase nada tem rendido para o povo.


Talvez a palavra que melhor descreverá minha opinião seja ingenuidade, porque eu acredito que a existência desta separação, desta guerra entre partidos e políticos com mandato seja desnecessária. E digo mais. O jogo de interesses que posiciona um mandatário de um lado ou do outro é genuinamente falso, forjado, haja vista a velocidade e facilidade com que um político troca de lado, de discurso e de cara. Definitivamente, coerência é uma palavra, uma concordância simétrica entre ideias e ações que anda em desuso na política brasileira, se é que esta um dia já fora usada.


Os inúmeros desafios que o país enfrenta há muito exigem dos políticos outra postura, maturidade e seriedade. Não há conceito dentro da Política que possa justificar a guerra, a falta de ética e o descomprometimento que se trava dentro dos plenários legislativos Brasil afora. E é de dentro desse espaço conflituoso e quase sempre improdutivo que nasce, paradoxalmente, minha ingenuidade, por defender que as posições partidárias contrárias, as oposições e situações a governos poderiam, sim, marcharem juntas e propor, conjuntamente, soluções para os desafios que estão postos. 


O cenário é tão geral, homogêneo que fica difícil destacar alguma exceção. Qualquer político que proponha caminhos dentro desse viés “ingênuo” que ora apresento será taxado de louco, demagogo e hipócrita, e será classificado pelo povo como alguém que não serve para ser político, sendo, ligeiramente, eliminado do rol dos eleitos, dos escolhidos.


É claro que tudo isso também tem muito a ver com instrução educativa. Não digo do político eleito, mas do povo que o elegeu. Não fomos (e nem estamos sendo) educados corretamente para viver em sociedade, tendo ciência dos nossos direitos e deveres. Estamos, sim, cada dia mais, nos tornando seres inconscientes do que é certo ou errado, e o resultado é que estamos, todos, ajudando a construir uma sociedade cada vez mais deficiente e com padrões incomuns e condutas esdrúxulas.  


Com algum esforço, eu até consigo visualizar a existência da dita Oposição e Situação, inclusive como crucial à manutenção da Democracia, do direito ao contraditório, por assim dizer, mas com postura que lance o olhar para as carências do povo e não para os interesses pessoais e /ou políticos-partidário-politiqueiros. 

Eu vejo diálogo entre políticos e partidos, sem que isso signifique, obrigatoriamente, abrir mão de ideologias pessoais e das razões de existir de cada um. A nossa Democracia, enquanto regime político, prevê a participação de todos, a união de forças em prol do bem-estar social, e não a composição de um campo de batalha onde só se semeia a discórdia e se colhe frustração.


Então eu lhes pergunto: desejar essa mudança significa que não sirvo para ser político?

Josevaldo Campos – Jornalista


*O termo “político” adotado neste texto refere-se àquele (a) que exerce a política partidária.