segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Jovens do semiárido baiano participam da definição de orçamentos municipais através de ações de projeto

Jovens de 25 municípios da região semiárida da Bahia se reuniram neste sábado (28) em Valente para seminário de avaliação dos resultados e conquistas do projeto Participação Juvenil no Orçamento Municipal. Os jovens (dois de cada cidade) participaram durante 12 meses de um processo de formação política, que tinha como objetivo capacitar lideranças para atuarem ativamente dos processos orçamentários municipais, com vistas à inserção de políticas públicas para a juventude.

O resultado deste trabalho foi avaliado durante o evento, que contou com a participação de gestores públicos municipais, representantes de sindicatos rurais e da coordenadora do Comitê Estadual do Pacto pela Infância no Semiárido, Iara Farias, além da representação juvenil de cada município envolvido na formação. As principais conquistas da juventude estão relacionadas à área de educação e lazer, como a construção de bibliotecas públicas, apoio de transporte para estudantes do ensino superior, construção de quadras e ginásio de esportes.

Dos 25 municípios envolvidos diretamente no projeto, sete já conseguiram inserir no orçamento municipal reivindicações da juventude. A cidade de Capela do Alto Alegre, que além dos jovens participantes esteve representado pelo prefeito da cidade, Dr. Ney, e pelo vereador Beto, aprovou quatro emendas (R$55 mil), valor que será investido na capacitação de jovens agricultores e produção cultural local, dentre outras áreas. Já em Serrinha, os jovens garantiram a construção da Casa da Juventude Serrinhense (CAJU) e também 13 quadras esportivas na zona rural.

Para Jocivaldo Bispo, jovem egresso do Coletivo de Jovens de Antônio Cardoso e atual secretário de Agricultura do município, “o resultado do projeto é uma ação de grande relevância, porque existe um afastamento muito grande das pessoas na definição do orçamento público”. Já para Sandra Sena, integrante do Coletivo de Jovens de Capela do Alto Alegre, a participação juvenil no orçamento municipal representou muito mais que a garantia de melhorias para as pessoas. “Foi uma conquista muito grande para nós enquanto coletivo, um reconhecimento. Foi uma luta muito grande, mas graças a Deus conseguimos e chegamos até aqui”.

Dailson Andrade, jovem e coordenador do projeto, lembrou para os participantes a importância de cada um dar continuidade ao trabalho de mobilização e participação política e de multiplicar o aprendizado em cada município em que atua, como forma de potencializar a participação jovem na elaboração dos orçamentos municipais e, assim, garantir a inserção das demandas desse seguimento nas ações das prefeituras.

O prefeito de Capela do Alto Alegre, Dr Ney, ressaltou a importância das prefeituras assumirem o compromisso para tornarem realidade o que foi aprovado em orçamento nas câmaras municipais e comentou a relevância do projeto: “Foi um trabalho responsável e conseguiu mobilizar os gestores. Foi muito positivo”. O evento, que aconteceu no auditório do Sindicato dos Produtores Rurais de Valente, foi dividido em quatro momentos: recepção dos participantes e convidados, apresentação de experiências juvenis de intervenção no orçamento municipal, balanço político-avaliativo e perspectivas do projeto, e conjuntura nacional política e plataformas das juventudes.

O Projeto participação Juvenil no Orçamento Municipal é uma realização do Coletivo Ação Juvenil de Tucano (COAJ), do Coletivo Regional Juventude e Participação Social (CRJPS) e do Movimento de Organização Comunitária (MOC), e tem o apoio da Brazil Foundation. Além das falas dos participantes, o evento contou com apresentações de teatro, hip hop e poesia.

Texto: Josevaldo Campos
Foto: Joelnir Santana

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Sertão Bonito, assentamento produtivo


A ansiedade para chegar ao local é grande. A paisagem que passa lentamente por detrás do vidro do carro é muito bonita. Floresta e caatinga comungam de forma perfeita, criando um equilíbrio entre o bioma. O colorido das casas, todas organizadas em filas, dá as boas vindas a quem chega ao local. Quando descemos do veículo, as crianças olhavam fixas e curiosas com a novidade da visita. Fomos andando e, aos poucos, as crianças iam se aproximando para ver do que e de quem se tratava. Sentamos e começamos a conhecer, aos poucos, nossos novos amigos assentados. Foi assim que eu e mais um pequeno grupo de pessoas tivemos a saudosa oportunidade de conhecer o Assentamento Sertão Bonito.

Sertão Bonito fica localizado no município baiano de Piritiba, cerca de 315 km da capital, e pertence ao território Piemonte do Paraguaçu. São 40 famílias assentadas, que sobrevivem na região através da plantação de feijão, milho, mandioca (6º produtor baiano de mandioca), abóbora, dentre outros. Da lona e do perigo de viver à beira das estradas na luta pela reforma agrária, as famílias hoje vivem de forma confortável nas casas de dois e três quartos, sala, cozinha e banheiro, construídas com recursos do Governo Federal. A produção de alimentos é feita de forma coletiva, e cada família ainda dispõe de um lote de terra individual, para plantar verduras ou outro tipo de alimento não produzido pela associação.

Na propriedade, a área que é de floresta ninguém mexe. As crianças aprendem, desde cedo, a importância da preservação. Longe dos brinquedos industriais, que alimentam comportamentos violentos, elam criam seus próprios brinquedos, sempre relacionados com o contexto rural em que vivem. Perguntamos, curiosos, o que representa cada parte da fazenda montada num canto do terreiro da casa. “Essa parte é do reflorestamento”, diz o filho do presidente da associação, um garoto, embora tímido, muito inteligente e humilde.

O dia passou rápido. Precisávamos pegar a estrada de volta. Como lembrança, além das boas recordações, levamos leite de vaca, abóbora e feijão. Gostaria que todas as pessoas tivessem essa oportunidade que tivemos. Gostaria que aquelas que acreditam que assentados são bandidos pudessem perceber a dimensão da injustiça e da ignorância que praticam todos os dias. Sertão Bonito está aí para mostrar e provar a seriedade da luta pela reforma agrária, a luta dos movimentos sociais que batalham por um pedaço de terra para plantar o alimento que matará a fome. Sertão Bonito, além de belo, é produtivo e emociona todos aqueles que sonham e lutam por uma sociedade mais humana e mais igualitária.

Josevaldo Campos