terça-feira, 15 de maio de 2012

O poder de uma capa de jornal

Apesar de saber a resposta, eu ainda insisto em, diariamente, após ler os principais jornais da Bahia, fazer uma pergunta inevitável: por que os fatos negativos ganham tanto destaque nesses veículos e sempre são premiados com a capa. A afirmativa de que as notícias ruins em relação às positivas têm mais aceitação, chamam mais a atenção do público leitor me parece muito superficial. Seria mais ou menos o mesmo que afirmar que os leitores são, por assim dizer, uma espécie avançada de masoquista-observador.

 Conheço, por exemplo, muitas experiências positivas que são realizadas em Salvador e em outras cidades da Bahia que não estão nesses jornais. Não é difícil procurar muito para encontrar jovens protagonistas, ONGs que atuam com projetos sociais através de metodologias brilhantes, pauta suficiente para encher as editorias de todos os jornais que circulam hoje pelas mãos dos baianos. Mas estas boas práticas não têm espaço. O olhar (aguçado) dos jornalistas (?) que trabalham nesses veículos são treinados para enxergar apenas mortes, roubos, sequestros, prostituição… Notícia boa? Para eles só quando alguém é preso ou um criminoso é morto. Seja lá como for, o sangue, a tristeza, o medo, o choro precisam estar presentes.

Quando eu estava no segundo semestre do curso de comunicação, tive a oportunidade de trabalhar em um dos principais jornais da Bahia. Agradeci, sob o argumento de que precisava ganhar mais experiência. Menti. Reconheço que minha recusa tinha em sua essência alguns resquícios de estudante-de-jornalimo-que-sonha-mudar-o-mundo. Eu não via (e ainda não a vejo) a bendita da comunicação social propriamente dita nas palavras impressas naquele papel caro. Isso tem feito com que eu não me arrependa das escolhas tomadas.

Eu ainda acredito que um dia experiências como a do Coletivo Regional Juventude e Participação Social, grupo organizado de jovens que atua no semiárido baiano, terá espaço na capa destes jornais. O trabalho é inteligente, envolve direta e indiretamente mais de dois mil jovens de 25 municípios. O que eles fazem por lá muita gente grande não sabe fazer por aqui. Há, apesar de raras, como se sugere, as exceções. Volta e meia encontramos uma alegria perdida em alguma página de um ou dois jornais. Nada mais.

Os jornais têm o poder de influenciar o que será lido por crianças, adolescentes e jovens, e contribuir para uma formação sadia. Então por que não apresentar-lhes no cardápio opções saborosas, que contribuirão para uma boa digestão?

Para se fazer um jornalismo melhor, mais social, não é necessário esconder a realidade, mas ao menos apresentá-la por completo. Posso, um dia, pagar caro por estas palavras, mas esse hoje é meu pensamento, a minha consciência. E vale ressaltar que o que penso ou estas palavras que vos escrevo nunca ocupará as páginas caras desses jornais. Não necessariamente porque não tem sangue, mas pelo risco que ela oferece de educar.

Josevaldo Campos

Um comentário:

  1. Josevaldo, você conseguiu captar perfeitamente a indignação sentida por mim e por nossos colegas de profissão. Colegas conscientes da importância de nosso trabalho no meio social.

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