segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Culturando na Praça. Iniciativa de três coletivos de jovens está versando ideias transformadoras para municípios

Sábado e domingo, dias 07 e 08 de novembro, jovens dos municípios de Tucano, Quijingue e Euclides da Cunha, semiárido baiano, abriram mão de estarem com as famílias, de viagens e até da habitual presença dos amigos para participarem daquilo que os desavisados classificariam como “trabalho de adulto”.

Tratava-se da primeira edição do Culturando na Praça – Versando Ideias, um projeto itinerante de intercâmbio, formação e promoção cultural desenvolvido pelos coletivos de jovens dos três municípios, todos integrantes do Coletivo Regional de Juventude e Participação Social (CRJPS).

A manhã do sábado começou com cada coletivo apresentando as principais ações que estão sendo desenvolvidas nos respectivos municípios e aquelas que estão previstas para serem executadas. Diferentemente do que geralmente acontece nos “trabalhos de adultos”, as apresentações tinham muito mais o formato de um bate-papo, não só pelo fato de serem jovens com o papel e a caneta nas mãos, mas, sobretudo, porque as ações desenvolvidas e apresentadas ali são conhecidas de todo o público e integram o rol de intervenções do CRJPS.

Nos intervalos das apresentações, cada coletivo trouxe para o palco uma mostra cultural. Aliás, para cada canto do espaço que se observava, via-se alguma manifestação artística se versando.

À tarde, reunidos em grupos, os jovens levantaram propostas de bandeiras de luta para debate e aprovação e posterior realização de ações individuais e coletivas, além de um bate-papo com um dos coordenadores do CRJPS, que falou sobre os novos desafios para a juventude. 

Dentre os principais temas a serem trabalhados no próximo ano está Feminismo, Preservação Ambiental, Não Redução da Maioridade Penal, Legalização da Maconha e Causa LGBT, temas da atualidade e que precisam ser discutidos e compartilhados com a sociedade, livres de preconceitos. A principal ação será promover nas escolas dos municípios formação e oficinas educativas com estudantes do ensino fundamental e médio.


Para fechar a tarde de atividades, cada coletivo promoveu uma formação sobre os seguintes temas e provocou nos participantes a criação de um produto, os quais foram apresentados em praça pública : genocídio da juventude (Coletivo de Jovens de Euclides da Cunha – Cojec), que culminou com um amplo debate e composição coletiva de uma canção intitulada “Qual a cara do ladrão?”. O Coletivo de Jovens de Tucano (Coaj) trouxe uma discussão sobre apropriação cultural, tendo como base o uso dos turbantes, abordando a história e uso consciente do objeto. Durante o evento noturno na Praça Maria Bonita (o nome não podia ser mais oportuno), os participantes fizeram turbantes na cabeça de diversos expectadores, deixando o ambiente ainda mais cult. Super bonito!

O Coletivo de Quijingue (CMJQ), por sua vez, botou o povo pra dançar, literalmente, com uma oficina de dança. E os jovens mostram, à noite, que têm muita ginga no pé. Os aplausos do público carimbaram a qualidade e beleza da apresentação final. E essa foi apenas uma das apresentações artísticas que animaram a noite da primeira edição do Culturando na Praça, onde toda forma de linguagem cultural pôde se manifestar.

Domingo, bem cedo, era hora de acordar e seguir, em caminhada, rumo a um açude da cidade, onde estava prevista uma ação socioambiental. Por lá, os jovens realizaram a limpeza de todo o entorno do local (muito bonito, por sinal, a água é uma delícia para o banho), plantaram mudas de árvores, instalaram lixeiras recicladas e ecológicas, produzidas pelos coletivos para este fim, e colocaram placas com mensagens educativas clamando aos visitantes para preservar o ambiente.

Embora a ação tenha sido um sucesso e muito lindo o engajamento de todos, a cena final era de lamentar. Vários sacos grandes de lixo, repletos de material descartável de todo tipo, foram recolhidos pelos jovens. Um retrato fiel – e triste – da forma como a comunidade local trata aquele oásis, popularmente chamado de açude. Todo o material reaproveitável vai virar arte nas mãos do artista plástico Adriano Motta, que, inclusive, abraçou a ideia do Culturando e estava por lá o tempo todo dando suas contribuições.

Com a intervenção, a vegetação que cerca o açude ganhou outra cara, sem o colorido agressivo do lixo. Ao retornar para o centro da cidade, as inúmeras reflexões entre os jovens foram inevitáveis e um sonho ficou plantado lá naquele espaço: que as árvores cresçam, produzam, e que brotem novas ideias na cabeça de todos que frequentem o local.

Josevaldo Campos, jornalista




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