Sábado e domingo, dias 07 e 08 de novembro, jovens dos municípios de
Tucano, Quijingue e Euclides da Cunha, semiárido baiano, abriram mão de estarem
com as famílias, de viagens e até da habitual presença dos amigos para
participarem daquilo que os desavisados classificariam como “trabalho de adulto”.
Tratava-se da primeira edição do Culturando na Praça – Versando Ideias,
um projeto itinerante de intercâmbio, formação e promoção cultural desenvolvido
pelos coletivos de jovens dos três municípios, todos integrantes do Coletivo
Regional de Juventude e Participação Social (CRJPS).
A manhã do sábado começou com cada coletivo apresentando as
principais ações que estão sendo desenvolvidas nos respectivos municípios e aquelas
que estão previstas para serem executadas. Diferentemente do que geralmente
acontece nos “trabalhos de adultos”, as apresentações tinham muito mais o
formato de um bate-papo, não só pelo fato de serem jovens com o papel e a
caneta nas mãos, mas, sobretudo, porque as ações desenvolvidas e apresentadas
ali são conhecidas de todo o público e integram o rol de intervenções do CRJPS.
Nos intervalos das apresentações, cada coletivo trouxe para o palco
uma mostra cultural. Aliás, para cada canto do espaço que se observava, via-se
alguma manifestação artística se versando.
À tarde, reunidos em grupos, os jovens levantaram propostas de
bandeiras de luta para debate e aprovação e posterior realização de ações
individuais e coletivas, além de um bate-papo com um dos coordenadores do
CRJPS, que falou sobre os novos desafios para a juventude.
Dentre os principais
temas a serem trabalhados no próximo ano está Feminismo, Preservação Ambiental,
Não Redução da Maioridade Penal, Legalização da Maconha e Causa LGBT, temas da
atualidade e que precisam ser discutidos e compartilhados com a sociedade,
livres de preconceitos. A principal ação será promover nas escolas dos
municípios formação e oficinas educativas com estudantes do ensino fundamental
e médio.
Para fechar a tarde de atividades, cada coletivo promoveu uma
formação sobre os seguintes temas e provocou nos participantes a criação de um
produto, os quais foram apresentados em praça pública : genocídio da juventude
(Coletivo de Jovens de Euclides da Cunha – Cojec), que culminou com um amplo
debate e composição coletiva de uma canção intitulada “Qual a cara do ladrão?”.
O Coletivo de Jovens de Tucano (Coaj) trouxe uma discussão sobre apropriação
cultural, tendo como base o uso dos turbantes, abordando a história e uso
consciente do objeto. Durante o evento noturno na Praça Maria Bonita (o nome
não podia ser mais oportuno), os participantes fizeram turbantes na cabeça de
diversos expectadores, deixando o ambiente ainda mais cult. Super bonito!
O Coletivo de Quijingue (CMJQ), por sua vez, botou o povo pra dançar,
literalmente, com uma oficina de dança. E os jovens mostram, à noite, que têm
muita ginga no pé. Os aplausos do público carimbaram a qualidade e beleza da
apresentação final. E essa foi apenas uma das apresentações artísticas que
animaram a noite da primeira edição do Culturando na Praça, onde toda forma de
linguagem cultural pôde se manifestar.
Domingo, bem cedo, era hora de acordar e seguir, em caminhada, rumo
a um açude da cidade, onde estava prevista uma ação socioambiental. Por lá, os
jovens realizaram a limpeza de todo o entorno do local (muito bonito, por
sinal, a água é uma delícia para o banho), plantaram mudas de árvores,
instalaram lixeiras recicladas e ecológicas, produzidas pelos coletivos para
este fim, e colocaram placas com mensagens educativas clamando aos visitantes
para preservar o ambiente.
Embora a ação tenha sido um sucesso e muito lindo o engajamento de
todos, a cena final era de lamentar. Vários sacos grandes de lixo, repletos de
material descartável de todo tipo, foram recolhidos pelos jovens. Um retrato
fiel – e triste – da forma como a comunidade local trata aquele oásis,
popularmente chamado de açude. Todo o material reaproveitável vai virar arte nas
mãos do artista plástico Adriano Motta, que, inclusive, abraçou a ideia do
Culturando e estava por lá o tempo todo dando suas contribuições.
Com a intervenção, a vegetação que cerca o açude ganhou outra cara, sem
o colorido agressivo do lixo. Ao retornar para o centro da cidade, as inúmeras
reflexões entre os jovens foram inevitáveis e um sonho ficou plantado lá
naquele espaço: que as árvores cresçam, produzam, e que brotem novas ideias na
cabeça de todos que frequentem o local.
Josevaldo Campos, jornalista
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