sábado, 24 de agosto de 2013

Dívidas: A diferente semelhança entre Tucano e Salvador

Na quinta-feira (22), o prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), anunciou o parcelamento da dívida total do município deixada pelos ex-gestores, valor que, segundo informações divulgadas, é de quase R$ 3 bilhões.

Destes, seu antecessor, João Henrique, deixou de presente nada mais nada menos que R$ 559 milhões. Só com a Receita Federal, referente à contribuição previdenciária de servidores municipais, foram mais de R$ 5 milhões.

Embora em proporções menores, as cifras encontradas por lá também “gorjeiam como as daqui”. Ao assumir a prefeitura de Tucano, o atual gestor, Dr. Igor (PT), foi obrigado a negociar com o INSS, tal como fez ACM Neto lá em Salvador, uma dívida histórica de R$ 55 milhões regada pelos ex-prefeitos, valor 11 vezes mais que o deixado na terceira maior capital do país. Ou parcelava e pagava o preço ou podia esquecer o seu sonho de fazer uma gestão recheada de obras e investimentos vindos de fora. Não só parcelou como está pagando um preço alto, para além das cifras que voam mensalmente antes mesmo de pousar no município.

Lá, em Salvador, o secretário municipal da Fazenda, Mauro Ricardo Costa, recém-chegado na pasta, já percebeu a realidade. “A situação da prefeitura é extremamente difícil. Se fôssemos pagar todas as dívidas deixadas não teríamos mais Guarda Municipal trabalhando, não pagaríamos as empresas de coleta de lixo, não faríamos mais nada. Não temos disponibilidade financeira para honrá-la”, assumiu.

Por aqui, o secretário de Administração e Finanças, Stefan Moreira, vive cercado, literalmente, com os números, e tenta sobreviver às oscilações fiscais e fazer mágica com os repasses federais. Se a capital baiana está sentindo o rombo, em Tucano o buraco é ainda mais embaixo. E tem muita coisa podre. Além da dívida milionária com a Receita Federal, o município teve que sentar-se à mesa de negociação com a Embasa e parcelar, em prestações quase infinitas, dívida de R$ 1,2 milhão. Daí pra frente a lista não parou de crescer.

Só com o GFIP, que é o repasse obrigatório à Previdência Social, o município desembolsa entre R$800mil a R$900 mil por mês. E não é só isso. O parcelamento da dívida dos R$55 milhões leva mais R$100 mil. Aí, evidentemente, vão somando os outros valores da lista, num processo de negociação que, certamente, com um esforço criativo-cinematográfico, renderia uma segunda Lista de Schindler, na versão fiscal-tucanense. “São valores que, com certeza, fazem falta às finanças públicas, aos caixas públicos. Mas ainda assim fizemos o esforço”, explica o secretário Stefan Moreira, diante de um cálculo óbvio, para tentar desenfrear a opinião inexata da oposição.

Lá, em Salvador, a prefeitura estava sem poder reformar e ampliar oito postos de saúde, realizar obras de contenção de encostas, fazer dragagens de canais e construir equipamentos esportivos porque o nome estava sujo. O prefeito limpou, exibiu a certidão negativa de débitos como troféu, e liberou, imediatamente, cerca de R$ 20 milhões para realizar as obras. Aqui, em Tucano, o prefeito também conseguiu o documento, mas, ao que parece, o povo estava interessado no troféu apenas enquanto ele parecia inalcançável. Depois de erguido, perdeu valor. Mas, deveras, há de ser apenas diferenças culturais entre as duas cidades.

Josevaldo Campos, jornalista

Nenhum comentário:

Postar um comentário