quinta-feira, 1 de abril de 2010

Do lado de lá. Ou de cá

Hoje, em meio a tantas atribuições e pensamentos noturnos, dei-me o luxo de parar para pensar. São inquietações antigas, algumas, inclusive, devem existir há séculos.

Volto um pouco na rotina corrida deste último dia. Demoro até chegar onde gostaria. É do outro lado da cidade, mas ainda estou sobre as terras da capital dessa majestosa baía de Todos os Santos. Entro no ônibus, depois de uma espera angustiante. Na próxima parada uma multidão aguarda por aquela que pode ser a última oportunidade de chegar em casa. Depois de dez minutos parados, seguimos. Tão logo passasse uma hora, chegaríamos, enfim, do outro lado da cidade.

Uma composição de minutos e segundos divide a cidade em dois extremos geográficos, em duas realidades distintas, desiguais. De que lado estou? De que lado você está? Do lado de lá vejo um emaranhado de cores, sem vida, que tentam insistentemente alcançar o céu. Do lado de cá, tons de cinza colorem uma aparente vontade de sobreviver num espaço milimétrico, em condições precárias. Para se chegar aqui é a mesma distância para se chegar lá, embora seja mais distante, impossível e improvável se chegar aqui. De um lado, os abastados, do outro, os castigados. De onde escrevo agora é um lugar totalmente desconhecido, de onde, certamente, você que mora lá, não sabe. Nós, do lado de cá, conhecemos muito bem vocês, do lado de lá. E a recíproca não é verdadeira. O que vocês, de lá, têm, a gente sabe e imagina. Os que temos por aqui vocês desconhecem e ignoram, embora seja a mesma cidade e a mesma distância. Seja qual for o lado que você está, estamos no mesmo lugar. Assim é a Salvador, desigual, de quase todos os santos, não fosse um detalhe importante: a forma e o lugar do olhar. Quem está do lado de lá ou de cá, na verdade, não é possível de se definir. A praia do Porto da Barra está para Salvador assim como a de Base Naval está para a baía, com ou sem santos. Do lado de cá ou de lá depende unicamente do seu olhar.

2 comentários:

  1. Na mesma margem que o olhar do poder político não enxerga,pois não e recíproca, a visão do lado de cá estamos no mesmo lugar da deficiência social e humana. onde uns se esconde nas sua próprias murarias onde formam seus lindos impérios,e do outro lado esta a margem da marginalidade do lamação de derrotas de indiferenças mas o meu olhar e de uma grande visão, que nós podemos fazer à diferença tendo um olhar crítico quando preciso mesmo cento contra versos.

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  2. Um olhar diferente sempre vai fazer a diferença, uma critica tambem.

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